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ione oliveira &
nian pissolati

Cara Ione,

Fomos convidados a conversar, por aqui, sobre rios e tudo o que florescer deles.

Apesar de não lhe conhecer, me parece, aqui serei mais um escutador.

Me explico: sou nascido e criado em uma Belo Horizonte seca.

E para conhecer o rio tive que ir longe.

Em algum momento espero poder lhe contar essa história.

Mas então, o rio, para mim, é um mundo outro.

E as pessoas com quem convivi lá me ensinaram que o rio,

o fundo do rio, é um outro mundo.

Mas, aí está, este outro mundo somos nós também.

E digo isso para além da obviedade (para muitos nem tão evidente assim)

de que para haver vida é preciso estarmos com os cursos d’água, dentro e fora de nós. Que nos irriguem e nos façam irrigar.

Mas estou me perdendo.

O que quero dizer é que ser rio

talvez passe por entrever que o medo do fundo

é o fundo do medo.

(O que há no fundo do mundo?

Quem encontrar?)

Claro, uma solução é mergulhar,

mas há, sempre, o perigo do encanto,

canto do medo.

Já me perco outra vez, me serpenteio.

Mas, sim, eu lhe pergunto, não caberia a nós ser rios?

De cá, lhe digo novamente, que para ser rio eu tive que sair de Belo Horizonte, porque esta cidade, em pouco mais de um século, tentou esconder como pôde as águas que correm, que insistem em correr, por aqui.

Mas elas estão aqui, não é?

Começo, então, nosso diálogo, com perguntas, e lhe espero,

para seguirmos.

E paro aqui, com a voz de um poeta, porque falar da água-vida nesse encarceramento que vivemos todos em 2020 é como acender um pavio:

“do outro lado da dor

a água é luz

a luz é nada

na mente vazia

a sombra da arraia”

Um abraço,

Nian

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(mensagens curtas trocadas)

 

Nian: Oi Ione! Tudo bem? Vamos retomar nossa conversa? Grande abraço!

Ione: Oi boa tarde

Ione: Tudo bem ?

Nian: tudo bem, e com vc?

Nian: acabou que paramos de nos falar..

Nian: adorei as fotos que vc mandou, tinha te mandando um audio perguntando sobre elas

Ione: Sim estava fora de BH

Nian: sim, eu também entrei num ritmo de trabalho apertado aqui

Nian: mas fiquei curioso pra saber mais sobre as fotos. meu contato mais próximo com rios sempre foi fora de belo horizonte

Ione: Essas fotos são dos meus canteiros

Ione: De tempeiro

Nian: e vc mora bem perto do rio?

Nian: Das nascentes

Nian: vc é uma cuidadora de nascentes, né?

Ione: Sim sou cuidadora do córrego laginha no quilombo mangueiras

Ione: Ele e formado por três nascentes

Ione: Daqui a pouco te mostro

Ione enviou:

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Nian: incrivel

Ione: Praia grande são paulo

Nian: as tres nascentes são no quilombo??

Ione: Sim 3 fluxos

Nian: que preciosidade hein

Nian enviou:

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Nian: esse é o rio que eu mais tive contato na vda

Nian: ele chama Uneiuxi, é um afluente do Rio Negro, na Amazônia

Ione: 👏🏿👏🏿👏🏿👏🏿👏🏿

Ione enviou:

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Nian: essa água é do rio?

Nian: nossa, e imagino quanta história deve ter sobre o rio. Lá no Uneiuxi eu ouvi muitas

Ione: Sim

Ione enviou:

Ione: Essa e a nascente 👆🏿

Ione enviou:

Ione: Chuva no Quilombo 👆🏿

Ione enviou:

Nian: é muito triste mesmo Ione, ver uma nascente se transformar em um curso para esgoto

Ione: Sim muito triste a Copasa não importa por que precisa vender água.

 

Nian: e eu fico imaginando o quanto isso é ruim para as práticas curativas. como vc disse, no entorno do rio sempre tem a presença de plantas medicinais. e água é sempre muito importante para benzimentos, né

Nian: no rio negro a água tem um papel muito grande para a formação das pessoas mesmo, desde que nascem

Ione: Sim o Laginha tbm todos que nasceu aqui tomou banho nele há um ano estamos tentando junto aos órgãos ambientais e copaza para retirada do esgoto das construções desordenadas no entorno do kilombo

Ione: Eu trabalho com plantas medicinais e benzeçao e desmotivados convidar a Copasa através de ofício para reunião e a mesma não comparecer

Ione: Estão tratando os kilombola com muita falta de respeito

Ione: O tempo todo tentado nós invibilizar

Nian: eu imagino o descaso da Copasa e das autoridades em resolver a situação

Nian: é terrível

Niane como estão os seres e as forças do rio com toda essa poluição?

Ione: Sim e temos a Eti onça a um kilometro e meio do kilombo

Ione: Estou na região do baixo onça

 

Nian: no rio negro, os benzedores tem um trabalho grande para tentar manter as energias vitais, porque desde que o "branco" chegou, a violência com os povos indígenas e exploração da floresta e dos rios desequilibrou tudo.

Nian: E o trabalho que deve ser feito para despoluir é muito complexo?

 

Ione: Sim aqui as fossas sépticas ambientais

 

Nian: o problema do rio é muito complicado, né. pq quem gera a poluição geralmente nem tem consciencia da sujeira que está causando.

 

Ione: Sim não controla seu próprio lixo que produz

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